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Como a gordura-trans se esconde no rótulo

Pesquisa mostra que a lista de ingredientes revela mais que a tabela nutricional de um alimento


A inclusão da gordura trans na rotulagem, em meados da década passada, trouxe consigo uma charada: os itens que entram no carrinho têm ou não têm gordura trans? Em tese, basta examinar a tabela nutricional. Se a quantidade exibida é maior que zero, tem. Se não houver número nenhum, não tem.
Para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, responsável pela rotulagem de alimentos), isso basta mesmo. Mas uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sugere que não. Num trabalho de mestrado defendido em 2011 e aceito este ano para publicação em uma revista científica estrangeira, Bruna Maria Silveira comparou a tabela com a lista de ingredientes de 2.327 embalagens de alimentos coletados num grande supermercado de Florianópolis. Metade deles tinha entre os ingredientes algum composto com gordura trans, mas apenas 18% traziam um número maior que zero na tabela nutricional.
A explicação estaria na própria legislação. A gordura trans só “existe” para a tabela nutricional quando ultrapassa 0,2 g na porção indicada pelo fabricante. Segundo a professora Rossana Pacheco da Costa Proença líder do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) da UFSC e orientadora da pesquisa, a regra permite que um biscoito feito com gordura vegetal hidrogenada e porção sugerida de 30 gramas (o que às vezes equivale a 2,5 biscoitos) tenha sempre o “zero trans” na tabela. Assim, quem lê apenas a tabela nutricional pode comer 5 ou 10 biscoitos sem saber que está ingerindo gordura trans. “A função da rotulagem é informar o consumidor e ajudá-lo a fazer escolhas” diz Rossana. “Nossas pesquisas demonstram que a rotulagem, como está, não funciona adequadamente”.
Se o consumidor checa também a lista de ingredientes, encontra a segunda parte da charada. A pesquisa encontrou 23 nomes diferentes para o tipo de gordura que pode conter ácidos graxos trans. Para Rossana, uma padronização na nomenclatura resolveria parte do problema. Mas, segundo a Anvisa, apenas 3 dos 23 nomes estão irregulares. Em entrevista à PROTESTE, a gerente de produtos especiais da Anvisa, Antonia Aquino, afirmou que a lista de ingredientes não é fonte de informação adequada para verificar a presença de gordura trans. “Rotulagem é um processo que vai melhorando ao longo dos anos, e todos os países concordam que ela precisa mudar. Mas nunca vai ser 100% adequada.”
A pesquisa da UFSC confirma o estudo que a PROTESTE fez com 53 alimentos industrializados, publicada na edição deste mês da revista PROTESTE SAÚDE. Apesar de a maioria dos produtos avaliados não conter essa substância em sua composição, encontramos alimentos com alto teor de gordura trans e, entre eles, até um que negava no rótulo a presença da substância.
Fonte: PROTESTE
Karina Carnassale Deana
Esposa do Davidson, mãe da Graziella (8) e dona de casa. Pedagoga e tradutora freelance. Gosta muito de escrever e inventar maneiras de ajudar as crianças a aprender. Ama a vida no campo e estar em meio à natureza com Deus e a família.

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