Morar no campo vale a pena. Vale a pena por muitas razões. Uma delas ficou bem clara para nós durante este período de quarentena…
Meu esposo, Samuele, e eu, Mariana, moramos em um sítio na cidade de Cesena, Itália. Aqui estava tudo normal até o final de fevereiro, quando houve o primeiro decreto de medidas de segurança contra a epidemia do coronavírus. Fecharam as escolas, igrejas, museus e cancelaram todos os eventos públicos por “uma semana” .
Essa “uma semana” se transformou em duas, depois três e cada vez aumentaram as restrições, até que chegamos a um mês com ordens para não sair de casa a não ser com justificativa (para trabalhar ou fazer uso de serviços essenciais como farmácia, supermercado etc. e para caminhar por motivos de saúde, se tiver atestado, mas somente próximo à própria casa). Agora já estão falando de prorrogar a quarentena até… e quem é que sabe realmente até quando isso vai durar?
O exército está parando motoristas, ciclistas e mesmo pedestres para verificar as justificativas e, se não ficarem satisfeitos, aplicam pena. Mas além deles, a própria população “vigia” uns aos outros. Se, da janela, virem alguém fazendo uma caminhada (mesmo ao ar livre e sem companhia) já começam a insultar e dizer para voltar para casa. Paradoxalmente, quando vão fazer compras no supermercado, muitas pessoas se ajuntam, porque só são admitidos no interior do recinto um certo número. O restante espera do lado de fora, numa fila imensa, mantendo um metro de distância uns dos outros.
Ao contrário de muitos, nós ficamos felizes de permanecer em casa. Aliás, nossa vida não mudou muito, já não saíamos muito de casa antes a não ser para ir à igreja e alguns passeios ou compras. Lógico que o melhor é ter liberdade de ir e vir, mesmo que essa liberdade não seja usada, mas quando não é possível, ficar em casa é uma ótima opção. Nos sentimos muito abençoados por ficar de quarentena em um ambiente onde podemos caminhar ao ar livre, tomar sol, observar a natureza, fazer barulho sem se preocupar com vizinhos, plantar e colher, armazenar… agradecemos muito a Deus pelo conselho que Ele nos deu há tantos anos de morar no campo. Se a quarentena durasse pra sempre, não seria um problema tão grave assim!
Agora, para nós, ficou muito claro porque a propriedade deve ser longe das cidades. Graças a Deus, aqui não falta abastecimento nos supermercados, mas mesmo que faltasse, poderíamos sobreviver com o que plantamos aqui. Mas, se uma dia chegasse ao ponto de que as pessoas na cidade não tivessem o que comer, o primeiro lugar onde iriam “buscar” alimento seria aqui onde estamos, pois moramos perto do centro habitado e a “comida” fica à vista de todos. E ficar muito à vista, em outros setores também, limita a liberdade.
Essa crise ainda não passou. Esperamos que passe logo, mas se as atividades permanecerem paralisadas e a economia estagnada, pode ser que chegue a uma crise econômica e política bem mais séria do que o coronavírus. O melhor é ser totalmente independente do sistema, sabendo sobreviver sem dinheiro.
Diante de tudo isso, a antiga orientação faz bem mais sentido: “Repetidas vezes tem o Senhor dado instruções de que nosso povo deve tirar suas famílias das cidades para o campo, onde poderão cultivar seu próprio mantimento; pois no futuro o problema de comprar e vender será bem sério. Devemos começar, agora, a atender às instruções que freqüentemente nos têm sido dadas: ‘Saí das cidades para as zonas rurais, onde as casas não são aglomeradas, e onde estareis livres da interferência dos inimigos” – Ellen G. White, Eventos Finais, p. 99.
Estamos orando para que estejamos prontos para encontrar o nosso Deus, o que significa também estarmos prontos para enfrentar a última crise. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos dê forças, sabedoria e confiança para avançarmos na Sua luz e enfrentarmos qualquer problema, não importa onde estejamos, se na cidade ou no campo. Mas talvez tenhamos que pedir perdão por não seguir as Suas ordens na íntegra e imediatamente. E se Ele nos conceder mais uma chance, que possamos atender às Suas instruções de forma rápida e decidida, no temor do Senhor e na gratidão pelo Seu cuidado por nós. Que nós não sejamos como os primeiros cristãos que esperaram em Jerusalém até que veio o segundo cerco, mas como aqueles que fugiram para as montanhas com antecedência.