Vida Cristã

Das mãos de Jesus

Vinte anos atrás, deram-me esta história num pedaço de papel e, desde então, ele está guardado em minha Bíblia. Essa história escrita pelo irmão Frank Philips exerceu um profundo impacto em minha experiência cristã quando voltei para a igreja. O autor já morreu, mas sua história é publicada aqui com permissão.



Atuei no departamento de oração e aconselhamento por muitos anos em nossos acampamentos. Durante esse tempo, muitas pessoas procuraram aconselhamento; mas uma jovem permanece viva em minha memória.

Ela era uma jovem mãe de dois filhos, de mais ou menos 26 anos, e a sua família estava caindo aos pedaços. Ao começarmos a conversa na sala de aconselhamento, ela me disse que seu casamento estava terminando e que não havia mais nenhuma maneira de salvá-lo.

Aconchegado em seu colo, estava um belo bebê de três meses, e bem ao lado dela uma linda menina de três anos de idade.
“Fomos atrás de conselheiros matrimoniais; fomos para todos os lugares e fizemos tudo que pudemos pensar para salvar nosso casamento. Este pequeno bebê,” apontando para a criança que dormia em seu colo, “foi o nosso último esforço para manter a família unida; mas não funcionou. Não há mais nada a fazer, a não ser desfazer o nosso lar.”

Orei com ela e ela retornou à sua barraca. Durante os próximos três dias, ela continuou a vir ao aconselhamento e, a cada vez, revelava mais detalhes do problema familiar. Finalmente, na quinta-feira, ela disse: “Queria que existisse algo que pudesse fazer.”

“Você está preparada para desfazer seu lar?”, perguntei.

“Não”, ela disse. “Na verdade, não.”

“Você está disposta a pagar qualquer preço para mantê-lo unido?”, perguntei.

“Acho que sim.” Ela hesitou em responder.

“Quero lhe dar algo”, disse enquanto lhe entregava um cartão no qual havia uma citação impressa. “Creio que o que está escrito nesse cartão é o parágrafo mais poderoso de todos os escritos de Ellen G. White. Tenho visto ele operar milagres nos lares; salvar vidas; e até mesmo unir famílias de novo, mesmo depois do divórcio. Diz assim:

‘A presença do Pai circundou a Cristo e nada Lhe sobreveio sem que o infinito amor permitisse, para a bênção do mundo. Aí estava Sua fonte de conforto, e ela existe para nós. Aquele que estiver impregnado do Espírito de Cristo, habita em Cristo. O golpe que lhe é dirigido cai sobre o Salvador, que o circunda com Sua presença. O que quer que lhe aconteça vem de Cristo. Não precisa resistir ao mal, porque Cristo é sua defesa. Nada lhe pode tocar a não ser pela permissão de nosso Senhor; e todas as coisas que são permitidas ‘contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus’ (Rom. 8:28).’ (O Maior Discurso de Cristo, p. 71).


“Estou certo de que nessa primeira leitura você não entendeu tudo o que há para entender nesse parágrafo, portanto, gostaria de enfatizar dois pontos muito importantes – e lembre-se também que os problemas de Jó foram apenas aqueles que Deus permitiu.

“Portanto, primeiro, é-nos dito aqui que Cristo aceitou tudo como vindo da mão de quem? Do Pai.
“Você quer dizer que quando bateram-Lhe na face Ele aceitou isso como vindo de Seu Pai?
“Você está preparado para ir tão longe assim?
“Quer dizer que quando Lhe fizeram uma coroa de espinhos e a colocaram sobre a Sua fronte, a apertaram e o sangue escorreu sobre a Sua face, Ele aceitou isso como vindo de Seu Pai?
“Você quer dizer que quando O levaram para aquela colina em Nazaré e tentaram jogá-Lo de lá, Ele aceitou isso como vindo de Seu Pai?
“Sim. Cada experiência isolada que tocou a Sua vida foi aceita por Ele como vinda de Seu Pai. Essa era a Sua fonte de conforto, e é a mesma coisa para nós hoje!”
“Quando as vestes de justiça de Cristo nos envolve, Ele permite que passe por elas somente aquilo que for para o nosso bem.” Eu disse a essa jovem: “Quero que você tome isso. Leve para a sua barraca. Leia. Estude e volte amanhã.”
Quando ela voltou no dia seguinte, perguntei se ela havia feito o que eu havia pedido, e ela respondeu: “Sim”.
“Você está disposta a seguir os princípios daquele parágrafo?”
Devagar e muito pensativa ela respondeu: “Não sei. Não tenho certeza… Queria que você pudesse conversar com o meu marido. Ele virá amanhã para nos buscar. Ele não é adventista.”
Disse-lhe que se ela pudesse fazê-lo ficar até depois da programação do sábado, ficaria contente em conversar com ele.

O jovem marido ficou e ela o trouxe para me ver. Falei com os dois, entreguei-lhe uma cópia do mesmo cartão e observei enquanto ele lia.

“Se qualquer um de vocês seguir essa instrução e simplesmente aceitá-la como o princípio que guia suas vidas, seu casamento poderá ser salvo. Se vocês dois a seguirem, vocês terão a experiência mais feliz que jamais poderiam imaginar.”
Orei com eles antes de partirem, sem saber o que aconteceria.
No ano seguinte, no acampamento, enquanto andava por uma das trilhas, dei de encontro com essa moça.

“Procurei por você em por todo lugar!”, ela disse. “Lembra-se do conselho que você me deu no ano passado junto com aquele cartão?”

“Agora que você refrescou a minha memória, me lembro sim. O que posso fazer por você?”

Ela me disse com entusiasmo: “Quero contar o que aconteceu!”

“Maravilha! Conte-me! Você aplicou o princípio para valer?”

“Deixei o acampamento com a determinação de que iria aceitar tudo o que tocasse a minha vida, tudo, como vindo diretamente das mãos de Jesus.”

“Maravilha!”, eu disse. “E como foi?”
“Nos primeiros três meses foi um inferno.” (Essas foram as palavras exatas que ela usou.) Pensei que estava vivendo com o diabo. Nunca havia visto meu marido agir de forma tão maldosa e diabólica em toda a sua vida!
“Mas então, depois de três meses algo começou a mudar.” Ela parou, sorrindo enquanto refletia, e então continuou: “Não tenho certeza se foi em mim ou nele. Mas alguma coisa começou a mudar.

“Depois que outros três meses se passaram, estávamos desfrutando o mais doce relacionamento que já havíamos tido na nossa vida de casados.

“Nunca havíamos experimentado algo assim! Era como se o Céu houvesse se aberto. Mas eu sabia que o diabo não iria deixar isso durar por muito tempo.

“Mas,” ela continuou, “aquilo durou por algum tempo. E então, nosso bebê morreu. Eu simplesmente não estava pronta para isso. Tinha aceitado tudo como vindo de Jesus, mas não estava pronta para isso. Percebe, não era somente o fato de nosso bebê ter morrido – foi a maneira que isso aconteceu que tornou tudo tão difícil.”

Pude ver lágrimas surgindo em seus olhos. Gentilmente, encorajei-a prosseguir com o relato.

“Bem,” ela disse, “meu marido e eu decidimos visitar as colinas. Tínhamos feito isso muitas vezes, e sempre deixávamos o bebê com a mãe do meu marido. Mesmo com a idade, ela amava tomar conta de nossa pequenina, e sentia que era bem capaz de lidar com a nossa fonte de energia inesgotável de onze meses de idade.

“O remédio da avó estava na beira da escrivaninha. Depois de colocar o bebê para dormir ao lado do móvel, se esqueceu das pílulas. Foi para o outro lado do quarto e começou a ler.
“Quando o bebê acordou, a avó não percebeu. Nosso bebê rastejou até onde as pílulas estavam, agarrou um punhado delas e começou a engolí-las quando a avó percebeu o que se passava.

“Ao ver o nosso bebê engolir aquelas pílulas, a avó entrou em pânico. Ela ficou paralisada em sua cadeira! Não conseguia se mover, não conseguia falar, não conseguia fazer nada!

“Quando meu marido e eu voltamos, encontramos o bebê na escrivaninha em coma. Apanhamos o bebê, vimos as pílulas e as apanhamos também. A avó continuava sentada na cadeira, em choque! Corremos para o hospital tão rápido quanto possível, mas dentro de uma hora nosso precioso bebê estava morto.

“Percebe,” ela continuou, “foi difícil porque foi inesperado, mas isso não foi tudo. Foi difícil também porque dentro de apenas algumas horas, os membros da minha igreja começaram a chegar e a se condoer comigo. Isso continuou por dias, e eu aceitei sua comiseração.

“Depois de alguns dias, comecei a sentir os mesmos velhos ressentimentos, os mesmos velhos sentimentos que eu tinha quando vim visitá-lo no acampamento.
“E,” ela disse, “comecei a perceber que havia falhado com o Senhor. Eu havia prometido a Ele que aceitaria tudo que tocasse a minha vida como vindo de Jesus, mas eu não tinha aceitado a morte da minha filha como vindo de Suas mãos.
“Corri para o quarto. Caindo sobre meus joelhos, orei: ‘Senhor, eu falhei contigo. Desapontei o Senhor. Por favor, por favor, perdoa-me. Aceitarei até mesmo a morte do meu bebê como vindo de Suas mãos. Tu sabes o que estás fazendo, eu não. Eu não sinto prazer nisso; não gosto disso, mas sei que Tu sabes o que estás fazendo e que a Teu tempo Tu me deixarás saber.’
“Levantei-me de meus joelhos e caminhei de volta à sala. Dentro de poucos minutos, a campainha soou. Outra moça havia vindo para se condoer com a minha perda. Olhei para essa boa moça, levantei minha mão e disse tão bondosamente quanto pude: ‘Não quero parecer rude ou ingrata pela sua bondade, mas, por favor, não tenha pena de mim. Percebe, eu dei minha vida a Jesus há uma ano, e dei-Lhe a vida do meu bebê na mesma ocasião. Estamos nas mãos de Jesus. Ele sabe o que está fazendo, eu não; mas eu não preciso saber porque confio nEle. Portanto, por favor, em vez de ter dó, você não se ajoelharia comigo para que pudéssemos agradecer a Jesus por realmente trabalhar em nossas vidas?’
“Nós nos ajoelhamos e oramos. A moça partiu imediatamente depois. Mais algumas pessoas vieram para oferecer condolências e eu compartilhei os mesmos pensamentos com elas. Assim que as pessoas perceberam que eu não queria comiseração, elas pararam de vir.
“Cerca de três semanas depois da morte de nosso bebê, a campainha soou. Fui até a porta e lá estava a mãe e o pai de meu marido.

“Podemos entrar e falar com você?”, eles perguntaram.

“Sim, claro”, eu lhes disse.
“Querida, temos a observado, observado por um ano inteiro. Algo aconteceu. Você não é a mesma moça que era há um ano. E temos observado você ainda mais de perto desde que a pequena bebê morreu. Não vimos ressentimento em você. Não entendemos isso, mas queremos dizer-lhe algo…”
“Percebe, quando éramos adolescentes, fomos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas desde o nosso casamento, nenhum de nós voltou a pisar em uma Igreja Adventista do Sétimo Dia – nunca. Nosso filho foi criado totalmente fora da igreja, mas se Deus pode fazer em você o que fez no período de um ano, então Ele pode fazer isso conosco também. Vamos voltar para a igreja.”

“Dois meses atrás, os pais de meu marido foram batizados. Nasceram novamente. Eles têm uma nova vida. Mas isso não é tudo! Depois de serem batizados, meu marido chegou em casa um dia e disse: ‘Querida, você não é mais a moça com que me casei. Se Deus pode fazer em você o que tem feito durante este ano que passou, se Ele pode fazer em meus pais o que fez em tão pouco tempo, então Ele pode fazer isso em mim também!’


Radiante de felicidade, ela continuou: “Meu marido foi batizado como um cristão nascido de novo há uma semana! Agora eu entendo! Na Nova Terra, terei meu bebê, minha pequena menina, meu marido e seus pais!”

“Compreendo agora que Deus trabalha de maneira maravilhosa. Quero apenas que você ore comigo para que eu nunca me esqueça desta lição: aceitar absolutamente tudo como vindo de Jesus e dar graças a Deus por isso.”
Percebe, isso é o que Paulo diz: “Em TUDO dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”, (1 Tess. 5:18). “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos” (Fil. 4:4). Não apenas pelas coisas que nos agradam, mas regozije-se no que quer que aconteça – sabendo que Deus está ao leme da nossa vida. Quando os problemas e as provas vêm, reconheça uma coisa: que Deus não dedicará nenhum esforço a um material sem valor. Portanto, você pode sempre se regozijar e dizer: “Senhor, obrigado por pensar que vale a pena trabalhar em mim.”
Você pode nem mesmo achar agradável a maneira dEle trabalhar. Tenho certeza de que Jesus não achou agradável quando a coroa foi colocada sobre a Sua cabeça. Tenho certeza de que Ele não achou agradável quando os pregos traspassaram Suas mãos, mas mesmo assim Ele disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
Você consegue ver o que isso fez na vida de Cristo? Como nosso exemplo, Jesus confiava totalmente em Seu Pai. Ele sabia que nada podia tocá-Lo, mas somente aquilo que Seu Pai permitisse – não importa como fosse a aparência ou a sensação. Ele confiava no amor de Seu Pai, e descansava na segurança de que o que quer que fosse permitido, seria para o Seu bem.

Isso ajuda você? Consegue ver que não importa quão terrível alguma coisa possa parecer ou lhe fazer sentir em sua vida – não importa quão terrível alguém lhe trate – se você aceitar essas coisas como vindo diretamente das mãos de Jesus, elas podem ser usadas por Deus para abençoá-lo?

Aquela querida moça me disse: “Estremeço toda a vez que penso nisso. Se tivesse continuado com ressentimento em meu coração, meu marido e seus pais nunca teriam visto Jesus em mim.”
Você permitirá que Jesus seja visto em você?

Por Cynthia Reyna

Karina Carnassale Deana
Esposa do Davidson, mãe da Graziella (8) e dona de casa. Pedagoga e tradutora freelance. Gosta muito de escrever e inventar maneiras de ajudar as crianças a aprender. Ama a vida no campo e estar em meio à natureza com Deus e a família.

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